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segunda-feira, dezembro 17, 2007

Pesquisadores desenvolvem membrana nacional para dessalinização de água salobra

Um grupo de pesquisadores do Laboratório de Referência em Dessalinização (LABDES) da Universidade Federal de Campina Grande (PB) desenvolveu um tipo de membrana, feita com fibras ocas, para a dessalinização de águas salobras. Essa nova membrana pode substituir as importadas, utilizadas hoje nos laboratórios de dessalinização brasileiros.

O projeto foi desenvolvido em parceria com a Coordenação dos Programas de Pós-graduação de Engenharia (COPPE), da Universidade Federal do Rio de Janeiro, com financiamento do Conselho Nacional de Desenvolvimento Científico e Tecnológico (CNPq/MCT).

A pesquisa buscou estudos que favorecessem a situação de emergência para uma autonomia nacional, em termos dos equipamentos necessários, principalmente no caso das membranas para dessalinizadores. “Estudamos os critérios para viabilizar um maior acesso e a redução do custo das soluções técnicas já postas em vigor para o fornecimento de água potável a comunidades inseridas na região do semi-árido brasileiro”, explicou o coordenador do projeto e responsável pelo LABDES, professor Kepler Borges França.

A produção das membranas ocas, para a dessalinização de águas salobras e salinas, encontra-se agora em fase de consolidação para atingir o patamar de escala industrial. Além deste trabalho, o LABDES vem trabalhando também na linha de produção de membranas cerâmicas, de fluidos para perfuração de poço de petróleo para a geração de energia não-convencional, a produção de hidrogênio eletrolítico e o reuso de águas .

Dessalinização
Há tempos já vem sendo diagnosticado o problema de escassez de água no mundo, especialmente em países com grandes regiões semi-áridas como o Brasil. Diante do quadro de baixa oferta de água potável, uma solução viável e segura para se obter água doce é dessalinizar a água salobra. Para isto, existem várias técnicas e processos, como a troca iônica e de eletrodiálise, ou o processo de osmose inversa. Pensando em uma tecnologia que possa ser adaptada às condições locais de cada região, tanto econômicas como sócio-culturais, o processo por osmose inversa tem sido o mais viável e utilizado em diversos países desde o final da década de 60.
“A tecnologia de dessalinização via osmose inversa é um fato consolidado nos países mais avançados. Aqui, adquirimos as membranas de fora do país para atender às necessidades de produção de água dessalinizada para regiões carentes e que não possuem acesso à água de boa qualidade. Por isso o investimento em pesquisa para o desenvolvimento de membranas vem ser de extrema necessidade, visando, principalmente, baratear essa demanda de ordem social e ambiental”, completa o coordenador Kepler França.

Para esta opção, são perfurados poços na região e a água retirada é submetida ao processo de osmose inversa por membrana. Segundo o professor Kepler França, o processo consiste, fundamentalmente, em pressurizar a água salobra, fazendo-a circular por cima da superfície de membranas seletivas, acomodadas em módulos e que praticamente só deixam permear a água pura. “São membranas poliméricas que, sobre o efeito de uma dada pressão aplicada, superior à pressão osmótica da água de alimentação do sistema, realizam a dessalinização”, complementa. Segundo o professor, o sal retido se concentra na corrente que não passa pela membrana, sendo esta recolhida para descarte ou aproveitamento posterior, por exemplo, em tanques de criação de peixes.

Diminuição da mortalidade
Direcionado para atender as demandas emergenciais de municípios do semi-árido brasileiro, o projeto desenvolvido pelos pesquisadores, focou-se na cidade de São João do Cariri, localizada na microrregião do Cariri Ocidental, no semi-árido do Estado da Paraíba.

Segundo dados do projeto, este município possui um baixo Índice de Desenvolvimento Humano Municipal (IDH-M). De acordo com o Atlas de Desenvolvimento Humano no Brasil (PNUD, 2003), o IDH-M foi de 0,662. Em relação ao Brasil, Serra Branca ocupa a 3.567ª posição. Um dos indicadores responsáveis por este baixo IDH, refere-se à mortalidade de crianças com até 1 ano de idade – por mil nascidos vivos. No ano de 2000, foram 44 crianças falecidas, ou seja, a cada mil crianças que nascem em Serra Branca, 44 morrem antes de completarem um ano.
“Com o projeto alcançamos impactos significativos para o município na área de saúde e para melhoria da qualidade de vida, com o consumo de água de boa qualidade, conseqüentemente contribuindo para a redução da mortalidade infantil”, explicou o coordenador.

Os dados e necessidades da cidade de Serra Branca são também um reflexo do que ocorre em diversos municípios do semi-árido brasileiro, revelando a necessidade urgente de melhoria da qualidade de vida das pessoas dessa região.

Na década de 90, com os avanços tecnológicos e os programas oficiais de apoio a municípios afetados pela seca, montadoras nacionais viabilizaram melhorias para unidades de dessalinização, aproveitando a água salobra de poços já perfurados e transformando as unidades para capacidades de porte médio, de 2 mil a 5 mil litros por hora. Segundo dados apresentados pelo projeto, estima-se que 2 mil unidades de osmose inversa tenham sido instaladas no Nordeste durante esse período, porém grande número destas hoje está inoperante por falta de operação adequada, de manutenção e custeio.

“ O grupo também se articulou, a partir de um patamar representado pelas condições locais sócioeconômicas da região do semi-árido, e pela oferta de tecnologia disponível, para promover melhorias adaptativas e inovações nas unidades de dessalinização. Percebemos que existe a necessidade de um gerenciamento adequado de recursos técnicos e humanos que visem à racionalização e à otimização do uso e da manutenção destes dessalinizadores por osmose inversa”, completou.

Aumento da oferta de água potável
Além da produção das membranas tipo fibras ocas para substituir as membranas importadas, o projeto também focou em estudar melhorias do desempenho e vida útil dos sistemas de dessalinização no semi-árido. “Apesar das vantagens do processo de osmose inversa, existe a dificuldade de acesso a alguns componentes, principalmente módulos de membranas, importadas e de custo relativamente alto, e as dificuldades de gerenciamento e manutenção das unidades instaladas, sem os quais tornam-se inoperantes em curtos intervalos de tempo”, explicou o coordenador Kepler França.

“Nesse contexto, o principal objetivo do projeto foi aumentar a oferta de água potável com a maior eficiência na dessalinização de águas salobras por osmose inversa. Para atingir os resultados, unimos competências e experiências complementares dos pesquisadores da Paraíba e do Rio de Janeiro, de modo que investimos em atuar na solução de um sério problema nacional, que há anos causa flagelo em uma grande parte da população que vive na região do semi-árido brasileiro. A escassez de água potável traz diversas seqüelas, como aumento da taxa de mortalidade infantil e baixo nível de desenvolvimento social e econômico da região”, finalizou.

Assessoria de Comunicação Social do CNPq