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segunda-feira, outubro 01, 2007

Silvestre Labs produz biomaterial para substituição óssea

A escolha da Silvestre Labs como uma das empresas mais inovadoras do país pelo Índice Brasil de Inovação (IBI) descortinou uma história de sucesso de pesquisa e desenvolvimento que vem sendo construída nos últimos 20 anos.

Fabricante de produtos farmacêuticos e instalada no Pólo de Biotecnologia do Rio de Janeiro (Bio-Rio), a empresa lançou recentemente o Extra Graft X-13 (foto ao lado), um biocomposto que ajuda na proliferação celular e é indicado para ser utilizado no preenchimento e substituição óssea em casos de lesões. O IBI foi criado pelo Instituto Uniemp e a Universidade Estadual de Campinas (Unicamp) com apoio da FAPESP (ver edição 136 de Pesquisa FAPESP).

O Extra Graft pode, por exemplo, substituir uma placa de platina, com a vantagem de não precisar ser trocado e de induzir o crescimento do tecido ósseo onde é aplicado. “O produto nasceu de um projeto desenvolvido na Unicamp, liderado pelo professor Benedicto Vidal”, diz Eduardo Cruz, presidente da Silvestre Labs. “Após uma análise bastante criteriosa do projeto, vimos que havia oportunidade de desenvolver um produto.”

A matéria-prima do biomaterial é a hidroxiapatita, um dos constituintes do osso, e uma malha de colágeno, ambos de origem bovina. A empresa e a Unicamp são detentoras da patente do Extra Graft, já lançado no mercado brasileiro. A Silvestre Labs aguarda a obtenção dos registros na Food and Drug Administration (FDA), a agência federal norte-americana que fiscaliza e regulamenta alimentos e remédios, na Comunidade Européia e na China, para colocar o produto no mercado internacional. Um acordo, que envolve permuta de conhecimento, já foi fechado com os chineses. Uma empresa de biotecnologia de Xangai, criada por um grupo de pesquisadores formado na Universidade Harvard, nos Estados Unidos, tem feito importantes avanços em terapia gênica. Os chineses propõem à Silvestre Labs um vetor para terapia gênica e, em troca, receberão a tecnologia do Extra Graft. Inicialmente, o produto foi lançado apenas para lesões odontológicas, mas com a evolução do projeto passou a ser utilizado também em cirurgias que envolvem a reconstituição de ossos da face e do crânio. “Ao entrar em contato com os osteoblastos, células jovens do tecido ósseo, o produto induz a proliferação celular, funcionando como uma matriz de proliferação óssea”, diz Cruz.

O produto é o primeiro na área de bioengenharia lançado pela empresa, que iniciou suas atividades em 1984 como farmácia de manipulação e hoje conta com mais de cem funcionários, dos quais oito têm mestrado e quatro doutorado. O primeiro lugar no ranking do grupo de média e alta intensidade tecnológica do IBI “foi uma grata surpresa, porque em mais de 20 anos de atividades a empresa não recebeu nenhum apoio público para o financiamento das suas pesquisas”, diz Cruz.

Indústria farmacêutica - A vocação da Silvestre Labs para desenvolver produtos e se transformar em indústria farmacêutica aflorou em 1990, quando foi instituído o Pólo Bio-Rio dentro do campus da Universidade Federal do Rio de Janeiro (UFRJ) e a empresa se mudou para o novo endereço. Nessa época, Cruz cursava medicina, após ter feito farmácia na Universidade de São Paulo e se formado na UFRJ, onde também fez curso de especialização em bioquímica. “Um fato que me chamou a atenção quando cursava medicina é que no Centro de Tratamento de Queimados do Hospital do Andaraí boa parte dos pacientes morria por falta de um medicamento importado”, conta.

Por isso o primeiro desafio da empresa na nova fase era obter a síntese molecular do princípio ativo do medicamento importado para tratar a infecção da pessoa com queimaduras em uma área extensa do corpo. Dados da Secretaria de Saúde e Defesa Civil do Estado do Rio de Janeiro apontam que cerca de 80% dos óbitos em pacientes com queimaduras são decorrentes de complicações infecciosas. O resultado do desenvolvimento realizado pela Silvestre Labs foi a obtenção de uma via sintética distinta da patenteada por uma empresa norte-americana e a formulação de um produto farmacêutico em forma de creme que recebeu o nome de Dermazine. O princípio ativo do produto é a sulfadiazina de prata, que possui uma ampla atividade antimicrobiana. “Quando começamos a aplicar o produto no Centro de Queimados, houve uma queda de 50% no índice de mortalidade de queimados graves”, relata Cruz.

Complexo tóxico - Apesar do resultado positivo, havia os outros 50% que não respondiam ao tratamento. “Mesmo com o controle das bactérias, boa parte dos queimados morre devido a problemas imunológicos e inflamatórios”, explica Cruz. “Isso ocorre porque há um grande distúrbio imunoinflamatório relacionado à formação de toxinas na pele pela ação da energia térmica.” A energia térmica sobre a pele queimada produz um tipo de complexo lipoprotéico que é tóxico e induz a complicações imunológicas nos pacientes com queimaduras graves. Os pesquisadores da Silvestre Labs fizeram parte de um grupo internacional que descobriu essas toxinas, formado pelo professor Brian Sparkes, do Departamento de Defesa do Canadá, pelo professor William Monafo, da Universidade de Washington em Saint Louis, e pela equipe liderada pelo professor Frank Allgower, da Universidade de Zurique, na Suíça.

“Nos estudos, descobrimos ainda que essas toxinas se formam em outros tipos de feridas, mas por razões diversas”, diz Cruz. Com base nesse conhecimento, a empresa desenvolveu outro composto, à base de sulfadiazina de prata e nitrato de cério. A associação do nitrato de cério à sulfadiazina de prata potencializa a ação bactericida. Quando colocado na ferida, o creme antimicrobiano, com o nome comercial de Dermacerium, retira as proteínas tóxicas que atrapalham o processo de cicatrização.
Até dez anos atrás, a empresa tinha um único canal de vendas, os hospitais. Foi quando decidiu colocar os seus produtos em farmácias. Essa decisão fez com que as vendas atingissem rapidamente um outro patamar e, com isso, a empresa resolveu transferir, há três anos, a promoção e distribuição de produtos para o Farmasa – Laboratório Americano de Farmacoterapia. Na mesma época do lançamento de produtos no mercado, a empresa começou a investir em outras linhas de pesquisa, como malária, hanseníase, proteína recombinante, células-tronco e bioengenharia.

Uma dessas linhas de pesquisa, a de células-tronco, resultou em uma spin-off (empresa menor derivada de outra), a Cryopraxis, o maior banco de cordão umbilical da América Latina, com sede no Pólo Bio-Rio. A empresa é uma unidade de manipulação celular, principalmente de células-tronco para cirurgias cardíacas. As pesquisas com células-tronco renderam outro fruto, a Cell Praxis, uma divisão voltada para a terapia celular de músculo cardíaco que conta com a participação de pesquisadores da Universidade Federal de São Paulo (Unifesp) e do Instituto Dante Pazzanese de Cardiologia. Em 2001, a linha de pesquisa de proteína recombinante gerou outra empresa, a Chron Epigen, também no Pólo Bio-Rio, voltada para pesquisa e desenvolvimento de novos medicamentos.

Fonte: Revista Pesquisa FAPESP