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segunda-feira, agosto 20, 2007

Novo pigmento branco para tintas à base de água, fabricado a partir de nanopartículas de fosfato de alumínio, é criado na Unicamp

20/08/2007 - Quando uma pesquisa científica inicia, com os primeiros riscos no papel e as primeiras idéias na cabeça, há uma meta a ser alcançada: a comprovação de uma teoria ou quebra de outra. Mas, para o resultado encontrado nos laboratórios chegar à aplicação prática, é necessário haver uma interação entre universidade e uma empresa. Foi este o caminho encontrado por um grupo de pesquisadores do Instituto do Milênio de Materiais Complexos (IM²C), coordenado pelo pesquisador Fernando Galembeck, da Universidade Estadual de Campinas, ao firmar uma parceria com a multinacional Bunge para o desenvolvimento de um novo pigmento branco para tintas à base de água, fabricado a partir de nanopartículas de fosfato de alumínio, criado na Unicamp e apresentado ao mercado sob a marca Biphor.


Atualmente o pigmento branco utilizado pelas indústrias de tintas e revestimentos é o dióxido de titânio, cuja fabricação produz resíduos agressivos ao meio ambiente. O novo pigmento é formado por nanopartículas de fosfato de alumínio e gera tintas brancas que duram mais e refletem mais luz que as existentes, além de não ser poluente.
Com a patente registrada, a Universidade, o Instituto de Química e os pesquisadores envolvidos terão direito a uma fatia de 1,5% sobre o faturamento líquido do produto, quando comercializado, de royalties . Estima-se que hoje este mercado de tintas, revestimentos e afins, movimenta valores em torno de U$ 5 bilhões.

Além da pesquisa que resultou na patente do Biphor, os pesquisadores do IM²C são considerados exemplos para outros grupos de pesquisa brasileiros, principalmente por alcançarem um nível de produção científica elevado, tanto quantitativamente quanto qualitativamente, fator essencial para conseguir uma interação efetiva com as empresas. “ Este Instituto do Milênio conseguiu superar barreiras jamais vencidas pela ciência brasileira, criando um novo padrão de geração do conhecimento e da sua transformação em riqueza”, afirma Fernando Galembeck, coordenador da primeira fase do Instituto, que ao final de 2006 já contabilizava 29 pedidos de patentes, além de outras negociações em andamento.

Rede de pesquisa nacional
O Instituto do Milênio de Materiais Complexos é um projeto voltado para a criação e aplicação de novos materiais complexos necessários a vários tipos de atividade humana. Sua missão é promover o desenvolvimento científico, centrado na pesquisa e exploração de estratégias experimentais e teóricas em sistemas supramoleculares, nanotecnologia e materiais. Situa-se dentro do contexto das Ciências da Complexidade, participa do desenvolvimento de aplicações e também gera conteúdos de domínio público.

Na prática, acontece como um a reunião virtual de numerosos pesquisadores, com seus grupos de estudantes e pós-doutores, das ciências que estudam materiais complexos, para desenvolver atividades de cooperação com pesquisadores de empresas, capazes de explorarem os resultados do projeto.

Aprovado em 2001, sob a coordenação de Galembeck, o IM²C faz parte do Programa Institutos do Milênio, executado pelo Conselho Nacional de Desenvolvimento Científico e Tecnológico (CNPq), uma iniciativa do Ministério da Ciência e Tecnologia (MCT), para ampliar as opções de financiamento de projetos mais abrangentes e relevantes de pesquisa científica e de desenvolvimento tecnológico.

O programa promove a formação de redes de pesquisa em todo território nacional, englobando instituições de diferentes regiões, para buscar a excelência científica e tecnológica em qualquer área do conhecimento, assim como em áreas priorizadas pelo MCT.

Em 2005, o projeto IM ²C passou para uma segunda edição, que terá apoio do CNPq até 2009, com a coordenação dos pesquisadores Henrique Eisi Toma e Paulo Sergio Santos.

Mais patentes
As primeiras patentes negociadas com empresas envolveram a multinacional Bunge, de fertilizantes e alimentos, e a Orbys, com o desenvolvimento de nanocompósitos de látex de borracha natural e argila. Outros 27 pedidos de registro foram requeridos no Brasil e no exterior. Estas patentes tiveram um papel decisivo no estabelecimento de vínculos e projetos de pesquisadores do IM²C com várias empresas, que por sua vez permitiram a formulação de novos projetos.

Entre as empresas envolvidas estão a Oxiteno, Bunge, Indústrias Químicas Taubaté, Radicci Fibras, Orbys, Carol Química, Companhia Nitroquímica Brasileira (Grupo Votorantim), Libbs Farmacêutica, Companhia Brasileira de Metalurgia e Mineração, Indústria Globo, Cristália Produtos Químicos Farmacêuticos, COIM do Brasil e Fotônica. Há outras negociações em andamento, a exemplo da empresa Contech – Sistemas Integrados de Valinhos (SP), que visa o licenciamento de patente para a remediação de efluentes de indústrias têxteis, pesquisados pelo Instituto.

Parcerias
Entre os exemplos de parcerias de sucesso que o Instituto do Milênio de Materiais Complexos possui destaca-se o projeto sobre látex catiônicos, que têm numerosas aplicações em construção civil, asfaltos e pinturas, com a empresa Indústrias Químicas Taubaté S/A. O projeto gerou uma patente e publicou um artigo científico. Segundo o coordenador do projeto, Galembeck, o produto já foi apresentado ao mercado, com sucesso.

Outro projeto desenvolveu fibras acrílicas para a fabricação de fibras de carbono, com a Radicci Fibras e a Marinha do Brasil. Como resultado, já foi obtida uma fibra acrílica adequada à produção de fibras de carbono de alto desempenho. Com esta conquista, a produção de fibras de carbono de alto desempenho pode ser feita no Brasil, toda ela verticalizada, a partir de matérias-primas petroquímicas básicas.

Há ainda o exemplo do projeto sobre látexes poliméricos, com a Oxiteno, onde foram desenvolvidos vários novos processos de obtenção de látexes diferenciados, transferidos para a Oxiteno. Além disso, foi firmado um contrato de consultoria entre a Oxiteno e o pesquisador Galembeck, que participa do Conselho Científico e Tecnológico da empresa e colabora em vários dos seus projetos.

O Laboratório de Química do Estado Sólido (LQES), coordenado pelo professor Oswaldo Luiz Alves, também integra o Instituto. Com 12 patentes registradas, o Laboratório mantém intensa interação com o setor produtivo. Em parceria com as empresas Libbs Farmacêutica, Indústria Globo, Cristália Produtos Químicos Farmacêuticos, Coim Brasil e Fotônica vem desenvolvendo diversos procedimentos e plataformas de análise físico-química de materiais sólidos, dentro da perspectiva chamada de “ polimorph screening”, ou seja, avaliando a relação existente entre as características da estrutura de cada material com sua biodisponibilidade. Outra atividade também em parceria com empresas é o desenvolvimento de metodologias específicas para analisar diferentes tipos de fármacos.

Sucesso na área acadêmica
Os resultados científicos alcançados pelos pesquisadores do IM ²C também são muito significativos. A contribuição para a formação de recursos humanos na área do projeto foi de 22 doutorados e 14 mestrados concluídos, sendo que estes novos pesquisadores são familiarizados com os mecanismos de proteção de propriedade intelectual. Mais de 356 artigos científicos foram publicados, com diversos trabalhos convidados para conferências internacionais e publicações com impacto e reconhecimento pela comunidade científica internacional.

Entre as premiações recebidas, há destaque para o Prêmio Almirante Álvaro Alberto para a Ciência e Tecnologia de 2006, do CNPQ, o Prêmio SBQ de Inovação, também em 2006, e o Prêmio Abiquim de Inovação de 2005, conferidos para Fernando Galembeck, e o Prêmio Fritz Feigl 2005, para Oswaldo Alves. Em 2006, Henrique Toma recebeu os prêmios Medalha JBCS, Abrafati-Petrobras, Nanoeurope Award e a Grã-Cruz da Ordem Nacional do Mérito Científico.